O que é comunidade?

07/01/2014 19:18

Certa vez fiz uma pesquisa etimológica para descobrir de onde e desde quando existe o termo comunidade e fiz descobertas incríveis.

Historicidade do Termo:

A partida se dará por uma das expressões indo-européia de certa instituição, que é justamente o termo latino hostis, com seu correspondente gótico “gasts” e eslavo “gospodi”.

Muito embora tal instituição perdesse força no mundo romano, por supor um tipo de relações que não era mais compatível com o regime estabelecido, isso por pré-supor que tal sociedade anterior desafiaria a nação, pela relação de homem para homem, de clã para clã, com isso tal estrutura é desfeita.

Assim se chega a subsistência desta distinção que é anterior ou posterior de Ciuitas.

“Ciuitas era constituída por um território vasto composto por uma cidade capital e aglomerados rurais. A ciuitas Ossonobensis integrava um vasto território que, a oriente, passaria em Bias do Sul (Olhão), localidade onde se encontrou um miliário (marco que continha às milhas entre as cidades mais importantes), confinando com a Ciuitas de Balsa (Tavira); para ocidente, o seu limite ainda é, hoje, apenas uma hipótese, passaria entre Albufeira e Lagos - esta afirmação é feita com base na antroponímia e na tipologia dos monumentos funerários e confinaria com a Ciuitas Lacobrigense (Monte Molião?). Ossónoba foi ciuitas ius latii, isto é, a sua administração organizava-se da seguinte forma: ordo decurionum (Assembleia Municipal) e llllviri (quatuórviros) magistrados executivos escolhidos pela assembleia. Foi elevada a municipium, muito provavelmente na época de Cláudio (41-54 d.C.), comprovando-se este facto por se tratar de um período de expansão econômica, por se ter encontrado o busto de Agripina (sua mulher) em Milreu e pelo retrato claudino encontrado na Praça Alexandre Herculano, em Faro”. [1]

 

A partir daí, percebe-se uma mudança drástica na conceituação do termo, mudança da qual não se é conhecida à razão, assim a definição precisa da palavra “hostis” levaram a significar hostil e passou a indicar uma atitude aplicada, daqui em diante, só ao inimigo[2].

Entretanto, voltando ao conceito primitivo do termo latino “hostis”, por conseguinte, a noção de hospitalidade foi expressa por um termo diferente, onde subsiste o “hostis”, não obstante, anterior, mas composto com pot(i)s: é hospedes <hostipe/ot-s>. Em grego antigo, o anfitrião (aquele que recebe) é o “x¡now” é o que recebe o xenodókhos (xenodñkhow).

Porém, deve-se fazer outras observações, como por exemplo nos temos com terminação em _ti, que em Sânscrito, “atihi” o anfitrião (quem recebe) tem para correlata “atihi-pati” o que recebe: a formação é paralela ao “hospes” em latim. O que recebe não é “o mestre” de seu anfitrião, como pode ser percebido, pot-n'a - não está na direção de “o mestre” para a origem.

Pelo exposto, o termo indo-europeu para ghosti (em latim hostis, em gótico “gasts” e em eslavo “gospodi”), leva a concluir que tal formação liga o fato de que algumas palavras pressupõem que a terminação _ti teria se tornado uma qualificação pessoal, como por exemplo uma combinação anterior a “poti”, pois esta conduz efetivamente, ou de forma capital, a uma compreensão vasta, designando um grupo: assim *dem-poti, jãs-pati.

Assim, a história de “hostis” resume a mudança que aconteceu nas instituições romanas, da mesma maneira que “xénos” (x¤now), se caracterizou por anfitrião em Homero, e que, posteriormente, para grafhê xenías (grafü xen…aj), que expressa a perseguição contra um estrangeiro derivando assim hostis para inimigo, do latim.

O mecanismo semântico descreve para “hostis” um paralelo em outra ordem de idéias e outras, ainda, fixadas conforme condições. É desses que são puxados para a raiz “mei” (trocar), p. ex. nem-mayate <troca>, e principalmente do termo mūnus latino (meu, nosso: cf. a forma moenus arcaico). Esta palavra é caracterizada pelo sufixo -nes, a qual Mallet (Mém. Soc. Ling. t. XVII) estudou o valor em pignus  (proveja), facinus, funus, fenus, todas as palavras que, como mūnus, recorra a uma noção de caráter social; cf. p. ex. rek-nah <herança> etc.

Realmente, mūnus tem o senso de <dever, cargo oficial>, formando também os derivados adjetivais; pignus (proveja), immūnis, commūnis. Porém, essa compreensão de origem do termo, revela que o entendimento está mais próximo de banquete, festa, festejos que é mais adequado, quando se defini mūnus como “donum quod officii causa datur” (um presente oferecido (uma retribuição) por se ter alcançado um cargo oficial). A pessoa realmente designada pelo mūnus, está no encargo (na tarefa) oficial do magistrado nos espetáculos e jogos na Roma Antiga. A noção de troca é incluído também enquanto alguém é nomeando magistrado, tal pessoa que lhe dá tais vantagens e honras, ou seja, obrigação de dar benefício em retorno (ser isento) das despesas em particular nos espetáculos, justificando assim encargo oficial como troca. A pessoa entende como aliança “gratus et munis” (Plaute. Merc. 105) e o senso arcaico de “immūnis” significando “ingratus, ou seja: é aquele que não devolve tais favores pela generosidade recebida.

Assim “múnus” é uma concessão que obriga uma troca; “immūnis” é o que não cumpre ou não satisfaz tal obrigação de recompensar o favor recebido. Tal definição pode ser confirmada dentro do Céltico pelo “moin”, pelo irlandês “main” (objetos preciosos), “dag-moini” (as concessões, a bondade). Por contradição, não significa “commūnis” (tem em comum, compartilha) as obrigações, e fica mais evidente na derivação de “munia”.

Porém, quando este sistema de jogos de compensação existe, dentro do mesmo círculo social, determina a comunidade como um grupo de homens unidos por uma aliança de reciprocidade.

Assim, este mecanismo complexo de concessões que alguns dão o nome de contador de concessões, por força dessas espécies coercitivas tem mais força nas expressões, que tem por condições, caminhado em direção da raiz (indo-europeu) “mei”-, como “munus”, impõe que, se a pessoa não tiver o modelo de tal instituição, é impossível se ter uma noção precisa e técnica que estas condições introduzem como unidade recíproca, bem como, as relações íntegras entre os membros.

Compreende-se até este ponto que as primeiras noções de comunidade estava no dar e receber, porém, não existe uma expressão simples para dar, ou seja, fazer concessão e outra que determine a contrapartida?

No exame da origem do termo, forma apresentadas, trata-se de uma raiz indo-européia, “dõ”, “dõnum” em latim e “dôron” (dÛron) em grego. Na pré-história etimológica (p.81) a noção de dar está em todos os lugares fixo em essência nas formas de dõ-, e em cada um dos idiomas (seguro Hittite) o termo se constituiu por formações paralelas.

Assim em grego o termo “dñron não indica de maneira inequívoca concessão, gratuidade, o senso do dôreán, advérbio (livre, para nada) é garantir uma concessão desinteressada. Deve ser mencionado, também, que estas formas de escrita puxaram outra raiz, pouco notada por passar desapercebida, que restabelece a importância e antiguidade destas, que é a raiz *ai-. Lembrando que esta raiz é acumulada pelo verbo “ai-tsi” (dar) em tokharien, como também pai em hittite informado em pe- + ai (dar).

Em grego a forma manteve “aîsa” (aÛsa) nominal (parte). Em Osque, um abstrato (indo-europeu) “ter-ti” (parte) é atestado pelo genitivo “aeteis” (eteiw) singular que corresponde no senso ao genitivo em latim, partis. Finalmente o onomastics de Illyrian nos provê o “Aetor”, como nome próprio, nome que tenha agente desta mesma raiz (ai-). Voilá tem como ponto de partida uma expressão para dar; “conçu”, como nomear uma parte.

Voltando às condições da família etimológica que é representada em latim por mūnus e immūnis, commūnis, será encontrada dentro do indo-iraniano, um derivado que tem uma importância considerável, e uma formação singular. É uma personificação divina, visto em indo-iraniano, o deus Mitra, que é formado por (indo-europeu) “Mei”- em forma reduzida, com o sufixo -tra- isso geralmente serve como instrumentos para nomes neutros.

Já para os vedas, “mitra”, é encontrada sob duas condições; masculino, como nome do deus e neutro dando senso para um contrato de amizade.

 

“Meillet, em um artigo famoso no Diário asiático em 1970, define Mitra como uma força em favor de uma sociedade divinal, como um contrato personificando a divindade. Mas como contrato de  amizade, pode ficar mais claro no contexto onde nós os substituímos: não uma forma aproximada de uma amizade sentimental, mas um contrato salientando uma troca”.

 

É possível ver tal representação destas noções na velha sociedade homérica, que nos dá uma ilustração que se pode dizer sociológica, quando num momento do famoso episódio, na canção VI do Elíadas, partes 120-136 (tradução de Mozon) está escrito:

“Glaucos e Diomède, ao se enfrentarem, tentando se reconhecer, descobrem que seus pais se uniram em torno da hospitalidade (174). Dioède se define então com respeito a Glaucos:

"Sim, você é para mim um anfitrião (xeÛnow) hereditário e por muito tempo (215)... assim eu sou seu anfitrião com o coração do Argolide e você é o meu em Lycie, o dia aonde eu irei até este país. Evitemos entre nos dois, de hoje em diante, se lançar um no outro (224-226)... Trocaremos bastante as nossas armas, de forma que aqui sejamos lisonjeados por sermos anfitriões hereditários". (230-231)

 

Toda essa aventura linguística nos dá condições de estabelecer um parâmetro adequado para continuarmos nossa investigação.



[2] Intuitivamente, pela disposição, podemos concluir que, como uma facção de regime de governo independente de Roma e por ela extinta, seus defensores passaram a ser perseguidos, tornando-se inimigos da nova ordem que se estabelecia pelo Império.